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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Cervejas de Natal - Baden Baden Christmas Beer 8ªedição - 2013

Após algum tempo sem escrever (por conta de uma espécie de licença-paternidade e, para repensar um pouco o enfoque do blog), volto aqui para falar, novamente de cervejas de Natal. Antes de começar, quero compartilhar com os leitores que, a partir de agora, pretendo enfocar ainda mais as postagens nas cervejas e locais cervejeiros da região do Vale do Paraíba (vou utilizar aqui o recorte da Região Metropolitana, que também envolve Serra da Mantiqueira e Litoral Norte): acredito que essa região tem muito potencial cervejeiro (tanto em termos de qualidade, como e de mercado). Dado o recado, vamos lá!

Já cheguei a escrever sobre a tradição religiosa de cervejas de Natal, ano passado, e você pode conferir a postagem clicando aqui. O que naquela postagem eu não destaquei é que essa tradição, que remonta a religiões e povos antigos, tem ganhado espaço no mercado cervejeiro. Afinal de contas, tudo entra em promoção e ações especiais de vendas no Natal, não é? Com as cervejas acontece o mesmo. Quase todas as boas cervejarias possuem uma cerveja de Natal. Geralmente são ales, mas isso não é uma regra.
Outro aspecto sobre as cervejas de Natal é que, ligadas às tradições do hemisfério norte, onde é inverno no Natal, elas geralmente são cervejas mais fortes, muitas vezes com maior teor alcoólico. Acontece que, aqui no Brasil, nosso Natal é tropical. Vem daí o motivo de destaque para a Ale de Natal da Baden Baden.
Achei bastante interessante, a opção por uma cerveja de trigo, leve e refrescante. Uma característica interessante da Baden Baden é que a cervejaria busca estar sintonizada às predileções do público brasileiro, mesmo não sendo o público mais "especialista" em cervejas. Atende com eficiência um público médio, que quer uma bebida diferente das marcas mais famosas comercialmente e, também, um público já "iniciado" no mundo das cervejas artesanais.
A cerveja me chamou bastante atenção pelos aromas de fermento e cravo que saltaram pra fora da garrafa, assim que a tampa foi aberta. Como já disse, é uma cerveja bem leve, bastante refrescante e que combina muito bem com o nosso Natal quente e tropical. Para quem já tem alguma experiência com cervejas artesanais, principalmente cervejas mais encorpadas e complexas, pode ser um pouco frustrante. Porém, o que acho mais interessante é que aponta um caminho: nossas cervejas de Natal podem muito bem estar mais sintonizadas com o nosso clima e nosso modo de vida, e até mesmo com os pratos da nossa ceia. Afinal, quanto mais opções tivermos, melhor. E, como diz o ditado, toda caminhada começa com um primeiro passo...


Crédito fotos: Gabriel Ilário Lopes

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Locais de cultura cervejeira: Empório Hopfields, São José dos Campos - SP

Depois de algum tempo sem escrever aqui, volto a falar do nosso mundo cervejeiro. E, hoje, vou iniciar uma espécie de nova coluna no blog, apresentando alguns lugares que considero verdadeiros propagadores da cultura cervejeira.
Hoje temos boas micro-cervejarias e cervejarias artesanais produzindo e propagando a cultura cervejeira por aí. Mas não é só dos produtores que se faz esse avanço cultural. O setor cervejeiro vem se organizando no Brasil, ganhando espaço e capilaridade. Graças aos cursos de formação de Sommelier de Cervejas, como o curso do Senac-SP, pelo qual me formei, existem profissionais capacitados para levar a cultura cervejeira até o consumidor final. E isso, vale destacar, é uma tarefa complexa: traduzir conhecimentos técnicos, específicos, sobre estilos de cerveja e processos de fabricação em experiências gastronômicas prazerosas.
Mesmo sendo tarefa difícil, há quem a realize com muita qualidade. E o exemplo de hoje é o Empório Hopfields, em São José dos Campos. Na casa, inaugurada em 2012, pode se encontrar uma combinação aconchegante de cultura cervejeira (as tradições alemãs, belgas, britânicas) com o sotaque brasileiro, em específico, o sotaque mineiro, do Sommelier de Cervejas Celso Oliveira e da "tia" Neusa, que toca a cozinha. A decoração rústica e a atenção individualizada do Celso faz a gente se sentir em uma casa do interior, ainda mais quando chegam os petiscos bem brasileiros como pão de queijo recheado com pernil, pra acompanhar aquela cerveja escolhida a dedo dentre os diversos rótulos do Hopfields.
O que me chama mais a atenção é, justamente, esse casamento entre e a cultura cervejeira e a nossa cultura brasileira. A experimentação na mistura de sabores brasileiros com os lúpulos e maltes proporciona bons momentos. Mais do que isso, parece ser uma boa iniciativa, que se soma a outras que ocorrem hoje no país, na direção da consolidação de uma cultura cervejeira, ou uma escola cervejeira brasileira. Uma vez que a gastronomia nacional é valorizada e potencializada em conjunto com as cervejas.
Pra mim, fica a certeza de que não se precisa de projetos gigantescos para que a cultura cervejeira ganhe destaque no Brasil e se desenvolva. Iniciativas menores, com alcance local, como o Hopfields, servem e muito para apresentar ao público em geral (e não só aos já "iniciados") o mundo cervejeiro e seus prazeres.

Pra quem quiser conhecer mais, recomendo que acesse a página do Empório Hopfields no Facebook, clicando aqui.

O Empório fica na Rua Elisa Costa Santos, 200, Jd São Dimas, São José dos Campos-SP

sábado, 17 de novembro de 2012

Do que é feito um Sommelier de Cervejas?

O mercado brasileiro de cervejas especiais está em alta. Ou melhor, está em crescimento, para um dia estar em alta. Esses mercados em ascensão são, muitas vezes, vistos como meras modinhas passageiras e, o que é pior, como oportunidade para se fazer ganhos fáceis. Em um momento em que se fala tanto de cervejas especiais, pipocam especialistas e publicações especializadas. Contudo, existem dois profissionais que são, realmente, especialistas em cerveja: o Mestre-Cervejeiro e o Sommelier de Cervejas. Sobre o primeiro, falarei em outra postagem. O assunto hoje é o segundo profissional: o Sommelier de Cervejas.

Mas, afinal, do que é feito um Sommelier de Cervejas? Qualquer um pode ser um Sommelier de Cervejas?

O Sommelier de Cervejas é o profissional especializado na comunicação entre o cervejeiro e o consumidor e, a rigor, qualquer um pode ser um Sommelier de Cervejas (ou Biersommelier). Qualquer um desde que tenha formação específica para tal. Em primeiro lugar, é necessário gostar muito do mundo cervejeiro. Mas só isso não basta.
O Sommelier de Cervejas adquire, em sua formação, conhecimentos teóricos e práticos sobre a história da cerveja, sua relação com a saúde humana, hábitos e psicologia de consumo, o processo de produção de cervejas, o serviço em restaurantes e estabelecimentos, degustação, estilos de cerveja e até harmonização gastronômica. A todos esses conhecimentos, some-se a capacidade de comunicação, que deve ser precisa, correta e acessível, adequada ao público.

Um último ingrediente

Mas ainda falta um ingrediente fundamental para se ter um Sommelier de Cervejas: Ética. Como lidamos com bebidas alcoólicas e, além disso, com um produto a ser comercializado e consumido por inúmeras pessoas, a Ética é fundamental. Sem ela, a cultura cervejeira perde seu valor, suas origens e torna-se sem sentido. Sem ela, a valorização de hábitos conscientes de consumo é deixada de lado. Sem ela, o mercado de cervejas especiais corre, sim, o risco de converter-se em moda passageira, em uma "bolha" que um dia estoura.
Estima-se que hoje tenhamos cerca de 500 profissionais Sommeliers de Cerveja no Brasil, com a previsão de que, em 2014, esse número chegue aos mil. Além disso, existem instituições reconhecidas que oferecem a formação, como o Senac-SP e a Associação Brasileira de Sommeliers-São Paulo (ABS-SP).

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Cervejas de Natal

Já escrevi aqui sobre a relação entre a cerveja e as festas de colheita dos chamados povos pagãos da Europa. Hoje quero falar mais um pouco a respeito disso, aproveitando a aproximação do Natal. Essa data comemorativa tem cervejas especiais cuja origem remonta a um passado distante.
Os povos pagãos, antes de serem cristianizados, adoravam deuses ligados a forças da natureza e às estações do ano. Para eles, tinha um significado especial o solstício de inverno, no dia 21 de dezembro. Nesta data, a noite mais longa do ano no hemisfério norte, celebrava-se o nascimento do Deus-Sol, ou o Deus Carvalho, ligado à luz. Depois da noite mais longa do ano, os dias começam a ser cada vez mais longos e esse período é o reinado da luz, do Sol, até o próximo solstício, em que se inverte a situação. Para celebrar essa data, os povos pagãos (celtas, germânicos, etc) preparavam cervejas especiais para a data. Eram, em geral, cervejas ales (de alta fermentação), com grande quantidade de ingredientes e um teor alcoólico compatível com frio do inverno europeu.
Com o passar do tempo e a ascensão do Cristianismo, essa comemoração foi substituída pelo Natal. Contudo, o costume de se preparar cervejas especiais para a data não foi abandonado. Agora, eram os sacerdotes cristãos que preparavam, nos mosteiros, cervejas para comemorar o nascimento de Cristo.
Voltando aos dias atuais, observamos que muitas cervejarias mantém esta tradição. Quer exemplos?
Baden Baden Christmas Beer, Eisenbahn Weihnachts Ale, Delirium Christmas, Samichlaus, entre inúmeras outras poderão te levar a reviver essas tradições sobre as quais falei e festejar esse momento tão gostoso do Natal.
Saúde!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Cervejarias - Montanhesa, Santo Antônio do Pinhal, SP

No último final de semana de setembro, já formado Sommelier de Cervejas, acompanhei uma brassagem na Montanhesa, em Santo Antônio do Pinhal, SP. A micro-cervejaria fica no Sítio Gralha Azul e pertence ao Alexander, que se formou Sommelier de Cervejas na mesma turma que eu, no Senac São José dos Campos. A brassagem foi coletiva e contou com a participação de toda a turma do curso (ou quase toda). A Montanhesa ainda não está funcionando oficialmente, mas o Alexander já vem fazendo algumas brassagens por lá, testando e afinando receitas. E a experiência foi ótima!
Primeiro, por ter sido a primeira brassagem que acompanhei e participei. Segundo, por todo o conjunto da obra. Não poderíamos encerrar o curso de maneira melhor e mais divertida. Acompanhar cada fase da produção de uma cerveja, ao vivo, é uma experiência incrível e eu recomendo a todos os amantes de boa cerveja.
Além disso, foi uma experiência que proporcionou uma verdadeira viagem no tempo-espaço. Acompanhar aquela brassagem, em plena Serra da Mantiqueira, com aquele ambiente "camponês" parece nos conectar com a origem rural da cerveja. Mais ainda: quando ouvimos o Alex explanar sobre a sua filosofia de vida e trabalho, essa sensação aumenta. A começar pela proposta do Síto Gralha Azul em si, de produzir os mais diversos alimentos com respeito ao meio ambiente, de forma natural e orgânica. Em segundo lugar, pelo cuidado e organização do lugar: tudo limpo, arrumado, organizado e funcionando em ordem. Terceiro, pela produção de uma cerveja sem sonhos megalomaníacos de exportar para o mundo todo, mas procurando ser um produto local, feito com qualidade e alma, para apreciadores de uma boa cerveja.
Pareceu uma viagem à Europa e sua vida rural. Produção com qualidade, integração com o campo, com as mudanças da natureza, as estações do ano...
E pra melhorar, foi tudo regado a cerveja boa (incluindo aí a Abati, uma blond ale produzida pela Montanhesa), comida boa e um bom papo entre amigos e colegas de sommelieria. Tudo isso, num clima familiar muito gostoso (com a presença das esposas de muitos de nós, inclusive a Laura, esposa do Alex, e suas três filhas lindas, supersimpáticas e educadas Serena, Gaia e Valentina).
 O visual do Síto Gralha Azul ( a Pedra do Baú ao fundo)
Rapaziada moendo malte

Site do Sítio Gralha Azul: sitiogralhaazul.net

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pra pensar nas tradições

Sou professor de História e, consequentemente, muito apegado às histórias e estórias da cerveja. Também sou um apaixonado pela cultura brasileira. Assim, desde que comecei a estudar sobre cervejas e cultura cervejeira, o que mais me chama a atenção é o aspecto cultural de todo esse universo. Confesso que senti um certo desconforto, no início. A cerveja é um produto que não é "originário" do Brasil, apesar de ser amplamente consumido por aqui. E isso me fazia pensar, algumas vezes, que falar de cultura cervejeira no Brasil era forçar a barra. Realmente, por um lado, acho que é. Mas por outro, tenho razões para achar que não.
Eu me explico. Realmente, falar, hoje, de uma cultura cervejeira, da mesma forma que ela está organizada nos países de tradição cervejeira, é forçar a barra. Ainda engatinhamos no que diz a termos hábitos saudáveis e de consumo de cerveja de qualidade. No Brasil, infelizmente, cerveja ainda é, para a grande maioria das pessoas, uma bebida cor de palha, sem gosto, sem cheiro e que deve ser consumida aos litros. Não levamos a sério (os brasileiros, no geral) o lema do "beba menos, beba melhor". Mas isso, felizmente, está mudando: cada vez mais pessoas descobrem os prazeres das cervejas de boa qualidade, com dua diversidade de aromas e sabores.
Quanto à presença da cerveja no Brasil, acho que há argumentos para acreditar que não seja nenhum "estrangeirismo" exagerado, cultivar a tradição cervejeira em terras tupiniquins. Acredito que pela "juventude" do nosso país, não se pode falar em tradições genuínas brasileiras. Nosso processo de colonização, por si só, já foi marcado pela introdução de elementos culturais "forasteiros". Não quero menosprezar a matriz cultural dos povos indígenas. Pelo contrário, acredito que ela mereça o mesmo destaque que as demais matrizes. Acontece que indígena não é sinônimo de brasileiro. Tornamo-nos um país, propriamente dito, a partir do século XIX. Com algumas divergências teóricas, podemos afirmar que nos reconhecemos como brasileiros há cerca de 200 ou 200 e poucos anos. Temos, é claro, elementos tradicionais, com mais do que isso, como por exemplo a cachaça, que data do século XVI e é um produto com a cara do Brasil.
Mesmo assim, falar do cultivo de uma tradição e cultura cervejeiras no Brasil não é render-se aos valores europeus. Da mesma forma que tivemos portugueses, espanhóis, indígenas, africanos das mais diversas etnias presentes na formação do povo brasileiro, também tivemos a presença marcante de imigrantes oriundos de nações com tradição cervejeira, como a Alemanha e a Inglaterra. Para se ter uma ideia, a cervejaria cervejaria artesanal mais antiga do Brasil, a Canoinhense, de Santa Catarina, do emblemático seu "Lefra", foi fundada em 1908.
 Cervejaria Canoinhense, SC
Seu "Lefra"

Nesse caso, de 200 anos de vida civil como um país independente, temos uma cervejaria com 100 anos. Além disso, o primeiro registro histórico de fabricação de cerveja no Brasil data de 1836, ou seja, dos primórdios da nossa vida política e organização como um país. Isso ajuda a demonstrar que a cerveja é um alimento com história dentro da nossa História. Ainda que nossa cultura tenha começado a ser gestada desde o século XVI (ou até mesmo antes disso), o Brasil não existia até 1808. Éramos apenas a América portuguesa. Logo após o início de nossa história (mais ou menos) autônoma, com a chegada da Família Real Portuguesa em 1808, já temos nossa tão querida bebida presente aqui.
Acho que, assim, consigo ilustrar um pouquinho da nossa "tradição" cervejeira e demonstrar que cerveja pode sim, ser vista como um produto brasileiro, ligado à nossa história e à nossa tradição. Mais que isso, acho que é importante lembrar que a nossa história e a nossa cultura, não estão prontas e acabadas: ainda estão em construção e o papel da cerveja em nossos hábitos e costumes ainda está por ser definido. Eu, particularmente, aposto no enraizamento desse delicioso hábito que, assim como a cachaça, o açaí, a carne-seca, a mandioca e a feijoada, tem tudo para se tornar um produto nacional.
É isso. Saúde!

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Cervejarias: Bamberg - Votorantim, SP

Em julho deste ano tive a oportunidade, com a turma do curso de Sommelier de Cervejas do Senac São José dos Campos (SP) e o professor Zé Márcio, de visitar a Cervejaria Bamberg, em Votorantim (SP).
Na fábrica, fomos recebidos pelo sócio-proprietário e mestre cervejeiro Alexandre Bazzo, que se encarregou de uma ótima aula sobre processo de produção de cervejas, sobre a Bamberg, sua filosofia de trabalho e cultura cervejeira, em geral. Foi uma experiência única. Ainda mais para mim, que fazia minha primeira visita a uma cervejaria.
Logo de cara, fomos apresentados ao processo de produção cervejeiro, matérias-primas e a história da cervejaria Bamberg.
Uma das coisas que mais chamou minha atenção foi o acesso que tivemos a toda a fábrica: fotografias liberadas; perguntas, então, nem se fala... Sem medo de "espionagem", Alexandre Bazzo liberou tudo. Essa liberdade que nos foi dada é fácil de entender: a Bamberg trava um fecundo intercâmbio com cervejeiros da cidade alemã de Bamberg (em homenagem à qual a cervejaria  foi batizada). Enfim, fica claro que o know-how faz toda a diferença no ramo das cervejarias.
Também chama a atenção o cuidado e controle sobre todo o processo. Enquanto nos guiava pelos tanques de fermentação, Bazzo várias vezes orientou os funcionários sobre ajustes a se fazer.
Alexandre Bazzo dando uma aula sobre processo de produção cervejeira

Filosofia

A proposta da Bamberg é ser uma micro-cervejaria. Assim como acontece na Alemanha, a filosofia de trabalho orienta-se pela qualidade, privilegiando a distribuição local dos produtos. Não para restringir o acesso de regiões mais distantes às cervejas Bamberg, mas pelo fato de que uma cerveja que "viaja" menos desgasta-se menos e mantém sua qualidade por mais tempo. Na Bamberg, vivencia-se a tão falada cultura cervejeira. O apelo é pelo consumo de qualidade e não de quantidade.

Visão geral da Bamberg

Parte chata da visita



A dor do parto

Sair de perto dos tanques de fermentação, dos quais pudemos provar o conteúdo, é difícil. Mas é uma tarefa que fica mais fácil com uma passadinha na loja da fábrica e em restaurantes da região que servem chope Bamberg. Ao final do dia, voltamos todos muito mais felizes do que havíamos chegado... e com gostinho de quero mais...
Saúde.

Uma passadinha na loja, ao final da visita, é obrigatória


Para acessar o site da cervejaria Bamberg: www.cervejariabamberg.com.br

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Cerveja, História e Religião

A cerveja é uma bebida produzida a partir de grãos. Assim, sua origem, segundo historiadores, está ligada às civilizações que conseguiram dominar a agricultura, no período chamado de Revolução Agrícola. O que aconteceu nesse período, na prática, foi que os homens (muito provavelmente, as mulheres) compreenderam a técnica necessária para se plantar e colher alimentos. Até esse momento, o homem era nômade, ou semi-nômade, caçando animais e coletando os alimentos necessários à sua sobrevivência, mudando-se quando estes se esgotavam.As primeiras civilizações surgiram daí. Com o homem fixado, a população cresceu, surgiram as primeiras cidades e estruturas hierárquicas de poder. Provavelmente, em um "acidente", grãos armazenados sem proteção devem ter passado pelos processos de malteação e fermentação, dando origem à cerveja.
Entre esses povos, o sucesso da colheita era, também, a sobrevivência de todo o grupo. Por isso, entre essas civilizações é comum a presença de cultos, deuses e divindades ligados à virilidade, à reprodução, à fertilidade. Não se trata só da conotação sexual de tais ideias, mas também da perspectiva natural que elas têm: o homem que fecunda a terra; a terra que é fértil e produz o alimento; a vida que se reproduz. Vários momentos do ano, ligados à mudança de estações, aos períodos de colheita tornaram-se motivos de festas e festivais religiosos. Esses festivais pagãos foram, com o passar dos séculos, incorporados às tradições cristãs. Acontece que a cerveja deve ter adquirido um papel importante nesses ritos e festividades, que acabou permanecendo, mesmo com as mudanças religiosas.
É por isso que vemos a existência de vários rótulos e estilos de cervejas que são feitos em momentos específicos do ano. Um bom exemplo, são as cervejas DoppelBock. Originárias da cidade de Einbeck, na Alemanha, eram produzidas na segunda quinzena de março, período em que há o equinócio de primavera no hemisfério norte (fim do inverno e começo da primavera) e o dia de São José. Nesse período, os sacerdotes passavam por jejuns, em que não podiam comer nada durante o dia. Contudo, beber não estava entre as proibições. Para isso, uma cerveja forte era preparada.
Esse ano tivemos um resgate dessa tradição, realizado pelas cervejarias Bamberg e Abadessa, como já publiquei aqui, em maio desse ano (http://www.belogole.blogspot.com.br/2012/05/starkbierzeit-2012-bamberg-e-abadessa.html).
Como se pode ver, o consumo da cerveja sempre esteve ligado a uma ritualização. Nada mais justo que valorizemos essa forma de consumo. Cada um pode criar o seu "ritual", desde a escolha do rótulo, o momento certo para degustá-lo, a companhia ideal para celebrar até o momento do consumo propriamente dito. Em outras postagens tentarei trazer mais algumas informações sobre a Cerveja ao longo da História.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

"Beba menos. Beba melhor" - mudanças de hábitos na mesa (e no copo) dos brasileiros

"A cerveja produzida com amor é bebida com parcimônia."

Esse é um dos princípios da produção das famosas cervejas trapistas belgas. Mas é uma ideia que também se aplica a outras cervejas, talvez não tão famigeradas como as belgas. Aqui no Brasil, temos esse lema traduzido em outras palavras:

"Beba menos. Beba melhor."

Quem está habituado com as chamadas cervejas especiais já deve ter visto essa expressão em alguns rótulos. E estas duas frases guardam uma ideia muito grande e cheia de significados.
Em primeiro lugar, você não vai encontrar essa ideia estampada nos rótulos das cervejas de grande mercado, produzidas em grande (enorme) escala. Não. Estas marcas associam, quase sempre, seus produtos ao grande consumo, com campanhas publicitárias que recorrem ao apelo sexual (e machista) e de sedução. Dizer para o seu consumidor "- Beba menos." é impensável para essas gigantes detentoras de mais de 98% do mercado cervejeiro brasileiro.
Essa não é a realidade das microcervejarias (micro, pequenas, nanos), que estão, no Brasil, ensaiando um grande crescimento. Crescentes em quantidade desde a segunda metade da década de 90, as microcervejarias e o mercado de cervejas especiais começa a definir, também, uma filosofia.
Não acredito que haja uma uniformidade e união harmoniosa entre todas as microcervejarias. Mas, pode-se dizer, que, a partir de algumas iniciativas um mesmo discurso começa a ser elaborado. Para essas cervejarias, cerveja não deve ser consumida sem se pensar, somente. No mundo das cervejas especiais, as cervejas não são todas iguais. Existe uma diversidade enorme e, a cada novo rótulo que o consumidor descobre, descobre também novas experiências gustativas, sensoriais, gastronômicas. Cerveja, para essa nova proposta, não precisa ser consumida "estupidamente gelada", somente. Também não é preciso estar na beira da praia, cercado de mulheres semi-nuas para haver motivo para uma boa cerveja. A cerveja pode estar presente numa celebração e também em um momento familiar. Naquele restaurante fino, de alta gastronomia, harmonizando com pratos rebuscados, ou na sobremesa, ou, até mesmo, acompanhando aquele hambúrguer caprichado, numa lanchonete bacana, por exemplo. E ainda há cervejas que caem muito bem naqueles momentos especiais, que podem substituir, se for o seu gosto, até o famoso champanhe...
Como já foi dito acima, as cervejarias com essa proposta não chegam a ocupar 2% do mercado cervejeiro nacional. Em países como os Estados Unidos, já ocupam um espaço um pouco maior. Aqui, ainda podem crescer muito. Mas esse é um processo de mudança cultural, que leva certo tempo a se consolidar. O poder aquisitivo do brasileiro médio tem crescido. Com ele, produtos que antes eram vistos como rebuscados, caros ou muito chiques, estão mais acessíveis a muita gente. No caso da cerveja, podemos ter esperança: quem prova de uma boa cerveja dificilmente não se apaixona... é só experimentar, e embarcar nessas novas sensações.

sábado, 14 de julho de 2012

Slow Bier Brasil


No último dia 09, o evento Extramalte, organizado mensalmente, liderado por Sady Homrich, recebeu o cervejeiro Marco Falcone, da Falke Bier, de Belo Horizonte, para falar do movimento Slow Bier. Esse movimento foi lançado no Brasil em 2009, com uma proposta semelhante à do Slow Food. Com essa proposta, o que se procura é levar o slogan "Beba menos, beba melhor" ao dia-a-dia das pessoas. Em resumo, trata-se de valorizar a cerveja como um alimento, com diversas possibilidades gastronômicas, capaz de proporcionar momentos de prazer e degustação que valorizem a qualidade e não a quantidade.
Impossível não associar essa ideia ao mercado das microcervejarias e cervejarias artesanais brasileiras. Esse mercado em crescimento tem como maior preocupação valorizar a diversidade da cultura cervejeira e apresentar uma nova forma de se consumir cerveja: nada de estupidamente gelada! O que se quer é que as pessoas aprendam, ou melhor, descubram, novas formas de saborear cerveja, sem pressa, sem o objetivo de só saciar a sede e encher a cara.
A seguir, reproduzo o texto de Falcone sobre o movimento:
"No dia 25 de abril de 2009 foi lançado o movimento Slow Bier Brasil, com princípios similares ao Slow Food, com o intuito de valorizar a produção de cervejas de qualidade, bem produzidas, utilizando matérias primas nobres, boas práticas de fabricação, além de conceitos como fair trade (comércio justo), sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. Preocupação com o consumo responsável, com cordialidade e convivialidade, com o prazer gastronômico que a cerveja pode proporcionar. Mas, além disto, o movimento se preocupa também com a forma de viabilizar isto, já que é muito mais dispendioso alcançar todos estes requisitos do que produzir em escala industrial, abolindo todas estas preocupações.
O Slow Bier Brasil quer mostrar as vantagens destas práticas que irradiam cultura cervejeira, mas tem que abordar também os desafios e dificuldades, que vão, desde a desproporcionalidade do poderio econômico com relação às mega indústrias até aos percalços da regulamentação, burocracia e tributação.
Desde sua criação o Slow Bier Brasil, que tem como símbolo um bicho preguiça (diferente do Slow Food, que utiliza um caramujo), tem procurado se manifestar e obter adesões em eventos pontuais, como no último ano no Festival Slow Film de Pirenópolis/GO, entre outros.
No lançamento, em 2009, foi feita uma vídeo conferência no bar Frei Tuck Slow Beer, em Belo Horizonte (que já não existe mais), com o movimento correspondente na Alemanha, e que iniciou o conceito, brindando também com Porto Alegre (Leo Sewald e Caroline Bender representando a Acerva Gaúcha) e Campinas (David Figueira e Maurício Beltramelli – Acerva Paulista), além dos cervejeiros da Acerva Mineira, Acerva Carioca, CONFECE (Confraria Feminina da Cerveja de Belo Horizonte) e FEMALE (Confraria Feminina da Cerveja do Rio de Janeiro), estes todos presentes in loco.
Pedimos a adesão de todos na data de hoje, quando estaremos levantando novamente a bandeira do movimento no Extramalte, do cervejeiro Sady Homrich, no Studio Clio, às 20 horas desta segunda-feira.
Um abraço a todos e Pão e Cerveja.
Marco Falcone"